domingo, 19 de dezembro de 2010

Professor Horista I

Reinaldo Tamburus

Ao contrário das universidades públicas que remuneram seus professores pelo total de horas integrais dedicadas à instituição, as faculdades, os centros universitários e as universidades privadas sempre pagaram seu corpo docente de acordo com o regime de trabalho horas/aula ministradas, previsto nos próprios instrumentos normativos.

Trata-se do professor horista, podendo ser definido como o docente contratado pela instituição exclusivamente para ministrar horas-aula independentemente da carga horária requerida ou que não se enquadre nos outros regimes de trabalho (tempo integral e tempo parcial), ou seja, esse professor é contratado exclusivamente para ministrar aula e recebe de acordo com a carga horária. Por não ter de fazer pesquisa, ele pode atender a um número maior de turmas do que um professor que trabalha em regime integral e dedica pelo menos 20 horas semanais na instituição mais outras 20 horas para pesquisa ou trabalhos fora da sala de aula.

Segundo dados recentes do Censo do Ensino Superior do MEC, esse regime de contratação professor-horista é muito comum nas instituições privadas, pois é o que gera menor custo; dos 70.076 professores dessas instituições, 35.354 (50,5%) trabalham por hora.

O artigo 320 da CLT que classifica como aulista ou por hora-aula o salário dos professores em estabelecimentos particulares de ensino, estabelece o seguinte:

        Art. 320. A remuneração dos professores será fixada pelo número de horas-aulas semanais, na conformidade dos horários.


Dois requisitos, portanto, estão alinhados no disposto do artigo 320, consolidado. O primeiro é de que a remuneração representará o número de aulas semanais. O segundo é que esta fixação atenderá a conformidade dos horários determinados pelos Estabelecimentos de Ensino.

É certo que os Estabelecimentos de Ensino privados, de um período letivo para o outro, deparam-se com a incógnita acerca do efetivo de alunos que terão matriculados para o próximo período, podendo ser superior ou inferior ao número anterior. Daí nasce a necessidade de se aumentar ou diminuir a carga horária semanal do professor, assim como a disponibilidade dele em aumentar a jornada semanal no caso de acréscimo de alunos, pois, dentro do princípio volitivo, é dado ao docente recusar o acréscimo, se razões tiver para isso.

Para que o Estabelecimento de Ensino, deparando-se com essa situação em juízo, na qual postule o professor o pagamento de diferenças salariais decorrentes da redução do salário mensal, em face da redução de número de alunos ou turmas de um período letivo para o outro, venha a ter sucesso na Demanda Judicial, precisará provar que essa redução se deu por motivos alheios à sua vontade, que o salário hora-aula não foi diminuído e que a fixação do número de aulas semanais é atribuição deste Estabelecimento — em face do que dispõem os instrumentos normativos de trabalho da categoria. Dessa forma, é necessário um bom trabalho de prevenção atendendo especificamente os dispositivos estabelecidos nas convenções coletivas de trabalho, fixando os horários em conjunto com o corpo docente da Instituição de Ensino e demonstrar, no caso da necessidade da diminuição do número de aulas semanais de um determinado professor, que este fato se deu por razões lícitas, assim como também foi oportunizado ao professor o direito de não aceitar as novas condições de trabalho, inclusive desligando-se da Instituição , se assim o desejar.

A jurisprudência assim se posiciona:

        PROFESSOR — REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA — NORMA COLETIVA — ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 244 DA SDI DO TST. O salário do professor horista é calculado com base no valor pago a título de salário-hora-base multiplicado pelo número de aulas ministradas. As convenções coletivas de trabalho firmadas pelo SINPRO/MG e pelo SINEPE/MG adotam o princípio da irredutibilidade salarial, condicionando a validade da redução da carga horária à homologação por autoridade competente e ao pagamento da correspondente indenização. Assim sendo, ao promover redução da carga horária do professor alcançado por tais normas, deve o empregador zelar pela sua observância, sob pena de se sujeitar ao pagamento de diferenças salariais. Essa decisão não afronta o disposto na orientação jurisprudencial nº 244, da SDI do TST, segundo a qual é possível a redução da carga horária do professor, decorrente da diminuição do número de alunos, sem que isso constitua alteração contratual lesiva, já que preservado o valor da hora-aula. Isso, porque a norma especial convencional encerra condição benéfica para o empregado, devendo prevalecer. (TRT 3ª R — 3T — RO/2226/03 — Rel. Juiz Sebastião Geraldo de Oliveira — DJMG 12/04/2003 — P. 05).


Sobre docentes horistas, há tantos defensores quanto críticos.

Dentre os favoráveis a esse sistema, está Flávio Bevilacqua que considera o regime de dedicação integral inviável por fazer o docente ficar muito tempo preso na faculdade, inviabilizando vários outros de seus projetos profissionais, como o aprimoramento de seus estudos por meio de cursos e especializações.

Já entre os oposicionistas, podemos citar Adolfo Calderón que se manifesta contrário à contratação de docentes como horistas, reduzindo seu trabalho e ementa delegada a ele a cumprir, o horário estabelecido.

Segundo Calderón, justamente por ser horista ele não terá tempo e condições para um compromisso maior com a instituição, pois se verá obrigado a vender sua “força de trabalho” a tantas instituições quantas forem necessárias para um sustento digno de sua vida. Esse sistema, além de não criar vínculos entre a universidade e o professor, não cria a possibilidade da existência de um espírito de comunidade universitária, o que afeta de forma drástica a qualidade de ensino.

Entretanto, substituir o trabalho do corpo docente em regime de hora/aula para regime de dedicação integral acarreta à instituição um custo alto. Faculdades pequenas não têm condição de implementá-lo no curto prazo, pois além de aumentar o custo da folha de pagamento, terão de oferecer atividades para que o corpo docente possa se dedicar, parcial ou integralmente. Há ainda os casos em que esse tipo de remuneração se mostra de difícil implantação: como ocupar em pesquisa um professor de antropologia ou de matemática que dá três aulas por semana? O problema não é tão simples e espera-se que possa ser diagnosticado e sanado pelo MEC.

Embora tamanha controvérsia em relação a esse regime de contratação, a generalização da contratação do professor-horista é evidente, tornando-se funcional em vários sentidos, sendo principal o de permitir a expansão da oferta, dado que se os professores trabalhassem em regime de dedicação exclusiva seu recrutamento tornar-se-ia um freio para a expansão.

Esse recrutamento de professores das públicas pelas privadas, hoje um fenômeno visível, foi favorecido pela queda salarial nas primeiras, que levou a procura de outras fontes de renda. Porém, esse treinamento foi feito muito mais na configuração tradicional do ensino de graduação do que dentro dos marcos do modelo da pesquisa.

Assim, a demanda docente para o ensino conseguiu ser abastecida pela funcionalidade do sistema de horista e, ao mesmo tempo, as privadas passaram a contar com um corpo docente mais qualificado, formado por professores atuantes e aposentados das públicas ou mestres e doutores nelas formados sem expandir a contratação em tempo integral. A curto prazo, as instituições privadas poderão demonstrar que, sob o ponto de vista da qualificação e mesmo da trajetória profissional, o perfil de seus docentes não se distingue notoriamente do que vigora nas públicas, ainda quando domine a contratação por hora aula. O sistema horista, sendo funcional para completar a oferta, faz que o docente circule por várias EES, especialmente nos grandes centros urbanos. Este vínculo de emprego é tradicional no Brasil, até no ensino fundamental, e há uma sabedoria que indica que não devemos — os docentes — colocar todos os ovos na mesma cesta ou, em outros termos, que o chapéu preferido é o que têm vários bicos.

Atualmente o professor horista é modalidade institucional presente em todas as Universidades e normatizada pela LDB, sendo o ideal que a Universidade realize seleção pública para contratação de professores horistas — com carga horária relevante, salário condigno, funções determinadas em carreira, vivência departamental, usufruindo de todos os direitos que a legislação trabalhista e o acordo coletivo da categoria propiciam a um profissional docente.

Horistas ou efetivos, é preciso que os docentes que atuam nas instituições reflitam sobre suas condições de trabalho e contribuam para a criação de mecanismos que influenciem na busca pelo aprimoramento do conhecimento que a instituição ajuda a construir e oferece à comunidade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Após reajuste no Congresso, líderes na Assembleia gaúcha defendem aumento salarial

Se depender da vontade dos líderes dos partidos na Assembleia Legislativa, o aumento superior a 60% no salário dos parlamentares aprovado na quarta-feira no Congresso terá efeito no bolso dos deputados estaduais gaúchos. Levantamento realizado por zh.com aponta que a maior parte das bancadas defende um reajuste nos vencimentos proporcional ao garantido em Brasília.

Pela legislação, o teto salarial de um deputado estadual equivale a 75% do ganho de um federal. Apesar de não ser automático, o efeito cascata depende somente da vontade da Assembleia em elaborar e aprovar um projeto com os reajustes locais. Se decidirem aumentar os vencimentos na mesma proporção de Brasília, os parlamentares gaúchos passarão a receber R$ 20 mil mensais — atualmente, ganham R$ 11,5 mil.

— Vai ser os 75%. Nós ainda não tratamos do tema, mas provavelmente será discutido na terça-feira — afirma Gilberto Capoani, líder da bancada do PMDB.

— Todo mundo do PP é favorável (ao aumento proporcional). Quem disser o contrário, estará mentindo — disse João Fischer, da bancada progressista.

Líder do PT na Assembleia, o deputado Elvino Bohn Gass é favorável ao reajuste salarial, porém defende critério diferente para discutir o percentual.

— Nossa posição é que se faça um cálculo da perda inflacionaria destes quatro anos sem aumento — sugere.

Veja a opinião dos líderes da bancadas na Assembléia

Paulo Borges (DEM)
"Nós, no Rio Grande do Sul, por questões de outras épocas, começamos a ficar defasados com nossos salários. É o salário mais baixo do Legislativo do Brasil. Tem de haver um reajuste, isso é óbvio. Tem de se ver o que será possível. Se chegar perto de 75% ou em 75%, não vejo nada de errado nisso."

Raul Carrion (PC do B)
"Ainda não temos uma posição firmada. Faz quatro anos que os deputados não têm nenhum reajuste, além disso, deve ser considerado que não estamos recebendo nem os 75% que estão previstos."

Adroaldo Loureiro (PDT)
"Os deputados têm o reajuste de quatro em quatro anos. Então, tem que ser feita uma reposição. Há uma defasagem muito grande de salários e temos que trabalhar esse tema. Não sei se a proposta vai chegar a esse nível (75% ao novo salário dos deputados federais) . Mas, com certeza, vai haver um reajuste. A nossa bancada é favorável, até para dignificar a atividade parlamentar."

Gilberto Capoani (PMDB)
"Vai ser os 75%. Nós ainda não tratamos do tema, mas provavelmente será discutido na terça-feira."

João Fischer (PP)
"Ainda estamos discutindo o aumento. Todo mundo é favorável do PP. Quem disser o contrário, está mentindo. Nossa condição não é de estabilidade. Este valor que se fala hoje (aumento de R$ 11,5 mil para R$ 20 mil) é bruto. Há descontos como Imposto de Renda, IPE (plano de saúde), partido, entre outros. Então, reduz bastante."

Zilá Breintenbach (PSDB)
"O PSDB vai se posicionar como as demais bancadas. Mas ainda mão batemos o martelo. Vamos nos reunir na terça-feira. Se a Assembleia entender que devemos equiparar o salário a 75% do vencimento dos deputados, também votaremos por isso."

Elvino Bohn Gass (PT)
"Nossa posição é que se faça um cálculo da perda inflacionaria destes quatro anos sem aumento. Defendemos este critério. Temos de saber qual foi a perda salarial nestes anos."

Paulo Odone (PPS)
Não foi localizado

Entenda o aumento

Na quarta-feira, o Congresso aprovou salário de R$ 26,7 mil para senadores, deputados federais, presidente da República, vice e ministros. De 18 deputados gaúchos que estavam em plenário, só dois votaram contra o reajuste de 61,83%: Luciana Genro (PSOL) e Paulo Pimenta (PT).

Veja os deputados que votaram a favor do aumento:

Cláudio Diaz (PSDB), Darcísio Perondi (PMDB), Fernando Marroni (PT), Germano Bonow (DEM), José Otávio Germano (PP), Luis Carlos Heinze (PP), Marco Maia (PT), Mendes Ribeiro Filho (PMDB), Osmar Terra (PMDB), Paulo Roberto Pereira (PTB), Pompeo de Mattos (PDT), Renato Molling (PP), Sérgio Moraes (PTB), Vieira da Cunha (PDT) e Vilson Covatti (PP).

* A deputada Emilia Fernandes (PT) se absteve de votar.

* Afonso Hamm (PP), Beto Albuquerque (PSB), Eliseu Padilha (PMDB), Enio Bacci (PDT), Henrique Fontana (PT), Ibsen Pinheiro (PMDB), Luiz Carlos Busato (PTB), Manuela D'Ávila (PCdoB), Maria do Rosário (PT), Nelson Proença (PPS), Onyx Lorenzoni (DEM), Pepe Vargas (PT) e Ruy Pauletti (PSDB) não estavam presentes na votação.

Fonte: sitio da ZERO HORA

Romário (PSB) considera JUSTO o aumento dos salários dos Deputados

ROMÁRIO CONSIDERA JUSTO O AUMENTO DOS SALÁRIOS DOS PARLAMENTARES.
LUÍS BULCÃO PINHEIRO
Direto do Rio de Janeiro

O ex-jogador Romário, eleito deputado federal do Rio de Janeiro pelo PSB na eleição de 2010, acha que o aumento para os parlamentares, aprovado na última quarta-feira pelo Senado, é justo. "O aumento é justo para qualquer classe. Entendo que aumento de salário é aumento de responsabilidade. Cada vez a cobrança é maior", afirmou ele na cerimônia de diplomação, realizada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

O Senado aprovou ontem a equiparação salarial para parlamentares, ministros de Estado e para o presidente e o vice-presidente da República. Todos passarão a ganhar R$ 26,7 mil a partir de fevereiro do ano que vem.

Na manhã de hoje, Romário havia postado em seu Twitter que não poderia ir à praia por causa da diplomação. "Quinta-feira com sol no Rio, qual vai ser?", publicou ele às 11h10. Minutos depois, porém, o ex-jogador tuitou: "galera, na verdade não rola praia pra mim hoje. Dia da minha diplomação, terno e gravata. Fazer o q né!!!!". AoTerra, Romário disse que sabia da diplomação e apenas fez um comentário no Twitter.

Sobre o seu novo trabalho como deputado, ele disse que está confiante, mas que vai precisar da ajuda de outras pessoas. "Eu aprendo rápido as coisas, como sempre aprendi. Tenho certeza de que vou superar todas as dificuldades. A prioridade do meu mandato está relacionada aos esportes e ao trabalho com crianças especiais".

Romário obteve 146.859 votos, equivalentes a 1,84% do total dos votos válidos do Estado do Rio de Janeiro, com o que garantiu uma cadeira na Câmara dos Deputados, segundo os dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O ex-atacante foi candidato a deputado pelo PSB e em sua primeira aventura eleitoral conseguiu a sexta posição entre 821 candidatos do Estado do Rio.

Romário manifestou seu desejo de restabelecer no campo político a sociedade bem-sucedida que teve com o também ex-jogador Bebeto nos gramados. Bebeto, que fez dupla de ataque com Romário no Mundial de 1994, foi eleito deputado estadual no Rio de Janeiro pelo PDT.

Senadora Biônica - Terça Insana

Logo após as eleições de 2006, onde figuras como Collor voltaram ao cenário político nacional, uma figura importantíssima da "história da nossa República" vem a público dar o seu Balanço das Eleições. Dulce Holanda ex-senadora Biônica. lembra-se? não tem importância!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aumento dos Salários dos Parlamentares! Absurdo!

Quem votaria contra um aumento no próprio salário? Dos 317 deputados presentes à sessão que decidiu pela elevação de R$ 16.500 para R$ 26.700 de seus próprios subsídios, apenas 35 deputados foram contra (11%). 279, ou 88%, foram a favor e 3 deputados preferiram se abster. Poucas vezes houve tanta unanimidade em torno de um assunto. O único partido a orientar sua bancada contra o aumento foi o PSOL. Além desses dados, é possível saber no próprio site da Câmara dos Deputados, como votou cada um dos deputados.

link da plenária:

Universidade pública e autônoma - Por Marina Barbosa Pinto

A universidade pública e gratuita é a forma de garantir a autonomia na produção e na socialização do conhecimento crítico

*Por Marina Barbosa Pinto

Pensar a universidade brasileira hoje significa entender o papel histórico da educação superior em um país capitalista dependente como o Brasil. O Ensino Superior em nosso país foi criado para atender, inicialmente, aos interesses da coroa portuguesa e, posteriormente, aos interesses estadunidenses, por meio da transplantação de conhecimentos.

Desde a gênese da universidade, um elemento político é constitutivo do dilema educacional brasileiro: a necessidade de expansão do acesso à educação. Essa necessidade, entretanto, caracterizou-se pela marca de um intocável privilégio social, cuja expansão começava e terminava nas fronteiras das camadas dominantes, como denunciava Anísio Teixeira.

Com o desenvolvimento do capitalismo em nosso país, a expansão do acesso à educação passou a ser uma exigência do próprio capital, seja para produzir força de trabalho para o atendimento das alterações produtivas, seja para difusão da concepção de mundo dominante. Esse processo foi historicamente confrontado pela pressão de professores e estudantes, com o intuito de destruir a monopolização do conhecimento pelas classes dominantes e pela democratização interna das universidades.

Estabeleceu-se, a partir daí, um debate que foi travado na década de 1960, quando a reforma universitária entrou na pauta política, como analisava o saudoso professor Florestan Fernandes. Ao longo de sua história, a universidade brasileira vive um processo de expansão do acesso que vem sendo conduzido pelos vários governos, especialmente a partir dos anos de 1970, por meio da ampliação do número de instituições privadas e pela privatização interna das universidades públicas, de forma a atender os interesses dominantes, que entendem a educação como um “serviço” e não como um direito dos trabalhadores.

Segundo dados do MEC/INEP (2008), do total de 1.637 Instituições de Ensino Superior (IES) em 2002 (final do governo de Fernando Henrique Cardoso), 195 eram públicas e 1.442 privadas. Já em 2008, do total de 2.252 IES, 236 eram públicas e 2.016 eram privadas. Esses dados evidenciam que a ampliação do número de IES privadas é mantida pelo atual governo.

Em relação à organização acadêmica, em 2002 o número de instituições estava assim distribuído: de 1.637 IES, 162 eram universidades, 77 eram centros universitários e 1.398 eram faculdades isoladas. Em 2008, de 2.252 IES, 183 eram universidades, 124 eram centros universitários e 1.945 eram faculdades isoladas.

Ainda que apresente alterações em relação ao número de instituições públicas e, especialmente, em relação às universidades, permanece a tendência de privatização da educação superior por meio das faculdades isoladas e centros universitários que não realizam pesquisa e são caracterizados, em sua maioria, como instituições de ensino.

O fortalecimento do setor privado como política dos últimos governos (de FHC a Lula) fica evidente também quando analisamos ações como o Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), que ampliam a isenção fiscal dos empresários da educação.

A privatização interna das universidades públicas ocorre por diversas ações: pelo decreto que regulamenta as parcerias entre as universidades federais e as fundações de direito privado; pela possibilidade de cobrança de cursos e venda de “serviços educacionais” pelas instituições públicas; pela Lei de Inovação Tecnológica que canaliza o trabalho docente para as empresas privadas e a ação dessas empresas nas instituições públicas, controlando, de forma privada, a produção do conhecimento e a formação profissional nessas instituições.

As mudanças causadas no ensino público

A outra face desse processo de reconfiguração da universidade pública brasileira está sendo realizada pelo Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), apresentado por meio de Decreto Presidencial (6096/07), que tem como objetivos aumentar o número de estudantes de graduação nas universidades federais; aumentar o número de alunos por professor em cada sala de aula da graduação; diversificar as modalidades dos cursos de graduação por meio da flexibilização dos currículos, da educação a distância, da criação dos cursos de curta duração, dos ciclos (básico e profissional) e bacharelados interdisciplinares; incentivar a criação de um novo sistema de títulos; elevar a taxa de conclusão dos cursos de graduação para 90% e estimular a mobilidade estudantil entre as instituições de ensino. Tudo isso no prazo de cinco anos.

Para cada universidade federal que aderir a esse “termo de pactuação de metas”, ou seja, a um contrato de gestão com o Ministério da Educação (MEC), o governo promete um acréscimo de recursos limitado a 25% das despesas de custeio e pessoal.

Entretanto, uma análise cuidadosa do parágrafo terceiro do artigo 3º e do artigo 7º do decreto de criação do Reuni deixa claro em que termos ocorrerá essa “expansão”, pois “o atendimento aos planos é condicionado à capacidade orçamentária e operacional do MEC” e “as despesas decorrentes deste processo devem estar circunscritas às dotações orçamentárias consignadas anualmente ao MEC”.

Deterioração do trabalho universitário

A análise do Reuni evidencia de que forma está ocorrendo a expansão do acesso à educação superior. Trata-se do aligeiramento da formação profissional (bacharelado interdisciplinar, cursos de curta duração, ciclos, exame de proficiência, cursos a distância) e da intensificação do trabalho docente (relação professor/aluno, ênfase das atividades acadêmicas no ensino de graduação, aumento do número de turmas de graduação).

As reformas e políticas realizadas sob a condução do governo Lula não alteram o quadro histórico de dependência cultural vigente em nosso país. Disso resulta a deterioração do trabalho universitário, especialmente na graduação; na mercantilização do sistema de pós-graduação; na privatização da agenda científica; na desvalorização social das atividades de extensão; no desenvolvimento de um sistema de avaliação calcado em critérios de produtividade empresarial; na configuração do “capitalismo acadêmico” ou capitalização do conhecimento universitário, e no bloqueio das condições de produção do pensamento autônomo e crítico.

É contra essa concepção – de educação como “um negócio do setor de serviços” e de universidade como mera instituição de ensino, transmissora de pacotes de informações – que o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) luta historicamente. Nos 30 anos de ações políticas do nosso sindicato nacional, defendemos que a educação é um direito conquistado pelas lutas históricas dos trabalhadores e que a verba pública deve ser destinada à educação pública.

A universidade, portanto, deve ser pública e gratuita, financiada exclusivamente com o fundo público, de forma a garantir sua autonomia na produção e socialização do conhecimento crítico. Deve ser uma universidade pautada na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e que tenha, no seu horizonte, a construção da ruptura com a dependência econômica e cultural que atravessa a história do nosso país. É a luta pela defesa da universidade pública e pela valorização do trabalho docente que nos move e nos fortalece.

*Presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN). Professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Minas Gerais

Evento
O artigo foi escrito a propósito do 5º Encontro da Regional RS do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), que reuniu professores de instituições como USP, UFRGS, UFPel, FURG e Unipampa entre os dias 3 e 5, na Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedusfm)

Fonte: Diário de Santa Maria

V EBEM - Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo

O EBEM – Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo – é um encontro de âmbito nacional que tem por objetivo possibilitar a discussão entre investigadores, professores, estudantes, militantes dos movimentos sociais e os diversos núcleos de pesquisa no país que abordam o tema da educação na perspectiva teórico-metodológica do materialismo histórico.

Dando continuidade aos encontros anteriores, temos a satisfação de apresentar o V EBEM, sob o título “Marxismo, Educação e Emancipação Humana”, organizado por pesquisadores e professores da Universidade Federal de Santa Catarina, vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências da Educação e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política do Centro de Filosofia e Ciências Humanas. O Encontro acontecerá em Florianópolis, no campus da Universidade Federal de Santa Catarina, nos dias 11, 12, 13 e 14 de abril de 2011.

Esta edição do evento contará com espaços de reflexão distribuídos entre diferentes mesas temáticas. Também acontecerão apresentações de trabalhos, que serão inscritos mediante submissão de resumos.

para maiores informacões acesse: http://www.5ebem.ufsc.br/index.php